O número de PPAs bilaterais de energia renovável na América Latina alcançou novos recordes, mas essa prática ainda não foi plenamente adotada. Com a pressão cada vez maior sobre as corporações para encontrar soluções de energia alternativas, sustentáveis e econômicas, esperamos que essas estruturas inovadoras se estabeleçam como uma característica transformacional no cenário energético da região – mas encontrar o parceiro certo para guiar as empresas quanto as escolhas disponíveis, será essencial para que essa tendência se estabeleça.

Nos últimos anos, a América Latina presenciou um grande aumento nos contratos corporativos de aquisição de energia (PPAs), nos quais as empresas compram eletricidade diretamente de geradores independentes, e não de uma concessionária. No ano passado, empresas da região adquiriram uma quantia recorde de 2GW de energia limpa através dessas estruturas – três vezes a quantidade adquirida em 2018.

Com o crescimento do mercado de energia renovável e armazenamento de energia na América Latina, estruturas mais inovadoras estão sendo disponibilizadas para oferecer PPAs corporativos a um maior número de clientes, com um número reduzido de contratos “take-or-pay” e maior ênfase em acordos focados na entrega, que visam servir à carga do consumidor.

Como funcionam os PPAs corporativos?

A capacidade de servir a carga do consumidor é essencial para o crescimento de PPAs. As empresas de serviços públicos tradicionais da região ainda são ainda entidades fortemente regulamentadas, cujo modelo de negócios nem sempre possui os mecanismos ou incentivos necessários para responder às demandas dos clientes por energia renovável. 

Enquanto que algumas companhias globais optaram por produzir sua própria energia renovável – por exemplo, firmas de base de dados – essa opção nem sempre é possível, em grande parte porque diverge do foco principal do seu negócio, e porque o terreno necessário para construir um projeto local que supra as necessidades de energia da companhia, pode não estar disponível.

É aqui que entram os PPAs. Em resumo, um PPA é um contrato para comprar energia diretamente de um gerador de energia, em vez de usar as tarifas de uma Companhia de Distribuição, frequentemente por um preço fixo. Embora cada contrato seja diferente e adaptado para atender às necessidades da empresa que compra a energia, os princípios básicos de cada tipo de PPA permanecem os mesmos.

PPAs físicos são a forma tradicional da estrutura, onde o comprador de energia firma um contrato de longo-termo pela energia gerada em um projeto renovável, recebendo entregas físicas da energia produzida. 

Em jurisdições onde a venda direta de energia não é permitida, ou onde um PPA físico não é a solução ideal, existe a alternativa de um PPA virtual. Este é um contrato estritamente comercial, sob o qual o comprador corporativo adquire eletricidade de um vendedor de energia renovável por uma taxa negociada. A energia gerada pelo vendedor é vendida na rede local por um preço de atacado, e o comprador e vendedor então negociam a diferença entre o preço negociado e o preço local de atacado, usando um contrato para acordo de diferença. Embora pareça mais exótico, em essência ele alcança exatamente os mesmos objetivos.

Por que as empresas estão adotando PPAs?

Esperamos ver o número de empresas que adotam PPAs de energia renovável subindo cada vez mais nos próximos anos, por diversos motivos.

Primeiro, um número crescente de empresas estão se conscientizando quanto a sua responsabilidade pelo aquecimento global – uma ameaça desproporcional para a América Latina. A região, que possui alguns dos recursos ambientais mais sensíveis do mundo, está se organizando contra a crise climática, com o mesmo ativismo verde e jovem que tornou famosa Greta Thunberg, se transformando em uma presença regular em cidades desde o Rio de Janeiro até Bogotá.

Para muitas empresas, o uso de energia renovável é uma forma de se conectar à base de consumidores ecologicamente conscientes, e um número crescente de empresas estão se comprometendo a reduzir suas emissões de acordo com o Tratado de Paris

Mas não são apenas fatores de sustentabilidade que estão impulsionando a tendência de adoção de PPAs em energias renováveis na América Latina. Ao contrário dos EUA e Europa, onde a energia renovável foi altamente subsidiada para encorajar sua produção, na América Latina ela é frequentemente a fonte de energia mais econômica para muitas localizações e mercados, sem subsídios. Graças aos contínuos avanços tecnológicos, essa tendência de preços parece duradoura, e cada vez mais empresas querem aproveitar fontes renováveis pela vantagem de custos menores.

Preços baixos são relevantes, mas com países como a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru criando regulamentações que facilitam o acesso de consumidores à PPAs bilaterais e mercados à vista, empresas também podem buscar nesses acordos vantagens econômicas e financeiras de longo prazo

Embora cada contrato seja feito sob medida, em geral, quanto maior a duração do PPA, menores os preços que o vendedor pode disponibilizar ao comprador. Com prazos de até 25 anos, esses acordos oferecem uma oportunidade de garantir preços baixos por anos a fio, protegendo compradores corporativos contra uma volatilidade futura no preço de energia. Essa exposição reduzida à volatilidade do mercado oferece uma visão de custos mais clara, de uma perspectiva de capital circulante – uma vantagem crucial quando o futuro econômico permanece incerto.

Enquanto isso, com diversas empresas da região se comprometendo a alimentar suas operações com 100% de energia renovável no futuro próximo, PPAs bilaterais com produtores de energia renovável oferecem uma vitória rápida pelo cumprimento das metas ambientais. Assinar um PPA de energia renovável pode ajudar companhias a diminuir suas emissões de carbonos de um modo transparente e rastreável, oferecendo a oportunidade de tornar sua marca mais verde e sustentável.

Outra característica inovadora dessas estruturas, e uma nova tendência no Brasil em particular, é a habilidade de reduzir riscos relacionados à moeda, ao denominar PPAs em, por exemplo, dólares americanos. Diversos PPAs assinados recentemente entre nós da Atlas Renewable Energy e corporações brasileiras são um exemplo perfeito disso. A Atlas firmou PPAs em dólares para novos investimentos, em valores superiores a 350 milhões de dólares, para fornecer mais de 1,180 GWh por ano em contratos de 15 anos com grandes clientes industriais.

Para quem são os PPAs?

Embora empresas de tecnologia dominem globalmente a aquisição de energia limpa através de PPAs, devido às suas grandes demandas energéticas – o maior comprador de energia limpa por PPAs ano passado foi o Google, com 2.7GW, mais que qualquer outra corporação – na América Latina, são as mineradoras que lideram a corrida, particularmente no Brasil e Chile.

Entretanto, com corporações de todos os tamanhos na região se atentando para as oportunidades de uma redução significativa na redução de CO2, e de aumentar sua competitividade com a rápida queda no custo de energias renováveis, nós vemos interesse de uma grande variedade de setores, desde fábricas até empresas de varejo, processamento, transporte, centros de dados, óleo & gás. As possibilidades são praticamente infinitas – desde fabricantes de cerveja procurando por meios ecológicos de energizar sua produção, até companhias químicas em busca de maneiras mais econômicas de suprir suas fábricas, PPAs bilaterais de energia renovável podem ser a resposta.

Os PPAs também não se limitam apenas às grandes multinacionais. Existe uma tendência global crescente de empresas menores dentro da mesma indústria, que se juntam para agregar seu poder de compra e negociar PPAs em grupo, e esperamos que essa tendência também vá se firmar na América Latina, com cada vez mais empresas decidindo aderir aos custos baixos e previsíveis da energia solar e eólica.

Uma tendência crescente

Embora a adoção de PPAs corporativos na América Latina esteja atrasada em relação ao resto do mundo, nós acreditamos que seja primeiramente devido a uma falta de consciência quanto aos seus benefícios. Nesse sentido, a Atlas Renewable Energy é um parceiro ideal para grandes consumidores de energia que buscam cortar custos e limpar suas emissões de carbono.

Na Atlas Renewable Energy, nossa equipe tem uma sólida formação e experiência em estruturar PPAs corporativos, desde o conceito até a operação. De fato, foi a mesma equipe de gestão que assinou o primeiro PPA de energia solar na América Latina, em 2012. Nós presenciamos reformas regulatórias de larga escala em muitos mercados nos quais participamos, que pavimentaram a estrada para contratos bilaterais de energia renovável. PPAs corporativos já são uma característica comum de mercados na América do Norte, Europa, Oriente Médio e África, e, conforme a novidade se espalha pela América Latina, PPAs corporativos na região vão ter presença cada vez mais forte.

A tendência, tanto global quanto regionalmente, aponta para o aumento dos PPAs de energia solar e eólica nos próximos anos. Não importa o setor ou a região, um PPA pode ser encontrado para satisfazer as necessidades específicas de cada empresa. Encontrar o parceiro certo para desenvolver uma solução ágil, de baixo custo, e sem complicações, vai ser uma vantagem competitiva para empresas, permitindo que demonstrem suas credenciais ecológicas reais ao gerenciar custos e obter segurança energética.

Fontes:

https://www.bakermckenzie.com/-/media/files/insight/publications/2018/07/fc_emi_riseofcorporateppas_jul18.pdf?la=en
https://pv-magazine-usa.com/2017/03/20/solar-goes-corporate-the-rise-of-the-bilateral-ppa/

A pandemia de Covid-19 está empurrando a economia global para sua primeira recessão desde 2009, e a América Latina já sente seus efeitos. Conforme governos implementam medidas de emergência e líderes corporativos pensam em estratégias de redução de custos, um retorno à normalidade ainda se encontra distante. No entanto, o caminho da recuperação pode ser pavimentado pelas oportunidades apresentadas pela energia renovável, dando espaço a um futuro mais sustentável e igualitário.

Enquanto o surto do coronavírus continua a atingir os mercados mundiais, a queda na atividade econômica global está prejudicando as exportações de bens e serviços da América Latina, interferindo nas cadeias de produção e restringindo as condições financeiras desses países. Nos mercados onde trabalhamos, empresas correm para enxugar custos, enquanto governos se movimentam para mitigar os impactos na saúde, sociais e econômicos do vírus com medidas de contenção, programas emergenciais de liquidez e pacotes de estímulo fiscal.

Estas medidas de curto-prazo têm servido para lidar com os problemas imediatos trazidos pela pandemia, mas para uma resiliência sustentável, a longo prazo, acreditamos que uma estratégia energética robusta será central nos planejamentos para o futuro – e a energia renovável será central nesse processo.

Medidas de cortes de custos das empresas

Nos mercados latino-americanos onde operamos, estamos vendo empresários enxugando seus custos e tentando prever com precisão suas receitas para realizar planejamentos confiáveis de seus negócios. Pesquisas realizadas pela empresa de consultoria Mercer comprovam este fato: pelo menos dois terços das companhias latino-americanas estão preocupados com o impacto econômico da crise em seus negócios, com 54% já realizando cortes de funcionários e despesas de trabalho.

Estas são medidas rápidas e de contenção, mas os indicadores mostram que o Covid-19 exigirá de nós medidas a longo-prazo. O PIB da América Latina tem previsão de diminuir até 5% este ano, e a demanda doméstica deve cair drasticamente enquanto as políticas de distanciamento social para evitar a propagação do vírus continuarem impactando no consumo.

Dependendo do setor industrial, os custos de energias ocupam entre a primeira e a quarta posição nos custos de operação das empresas, e por isso vemos companhias levarem o consumo e fonte da energia que utilizam cada vez mais em conta nas suas estruturas financeiras.

Acordos de Compra de Energia (ACE) de energias renováveis, onde companhias compram eletricidade diretamente de geradores independentes no lugar de uma planta de energia, têm aumentado nos últimos anos, com 2019 vendo a triplicação desses acordos na América Latina.

Estruturado como um contrato entre um receptor corporativo e um produtor de energia, esses acordos permitem a compra de energia elétrica a um preço fixo por um período determinado. Para compradores corporativos, isso significa visibilidade e certeza quanto aos custos futuros em eletricidade, além de uma proteção contra a volatilidade dos preços de energia – uma chave para continuar prosperando no mundo pós-Covid-19.

Nossa equipe foi a primeira a implementar uma ACE privada de energia solar no Chile oito anos atrás, e desde então replicamos este sucesso no Brasil e no México. Estamos vendo um aumento no número de pedidos de companhias em vários setores, buscando uma estratégia energética que dê conta do equilíbrio financeiro nestes tempos de contenção, e acreditamos que este padrão persistirá no futuro.

Governos olham para as energias renováveis como uma possibilidade de vitória

Como no restante do mundo, as pessoas na América Latina têm contado com os seus governos para encontrar soluções à crise do coronavírus. Aqueles que agiram rapidamente receberam amplo apoio popular, mas medidas a longo prazo também serão necessárias para manter a economia nos trilhos nos próximos meses e anos.

Conforme os governos mudam seus focos das medidas emergenciais para uma visão a longo prazo, uma transição baseada em energia renovável pode fornecer resiliência e recuperação igualitária para a crise, sem deixar ninguém para trás. Nós vemos isso em nossos projetos que levam alternativas energéticas limpas e baratas para a região. E não somos apenas nós que acreditamos na força das renováveis: em seu Relatório Global de Renováveis, publicado em abril deste ano, a Agência Internacional de Energia Renovável prevê que uma transição energética como parte integral dos planos de recuperação que resultará em um ganho de PIB global de quase 100 trilhões de dólares até 2050.

Nesse sentido, países latino-americanos já saíram na frente. Eles determinaram, coletivamente, a transição para 70% do consumo partindo de renováveis até 2030, mais que o dobro da meta da União Europeia, enquanto 81% das contribuições nacionais determinadas pelo Acordo de Paris contra as mudanças climáticas da região incluem a quantificação de energias renováveis – contra 67% globalmente.

Em vez de contribuir para a tragédia do Covid-19, permitindo que ela atrase a transição para energias renováveis, acreditamos que os governos latino-americanos têm uma oportunidade sem precedentes para ajudar a acelerar a transição, utilizando a atual situação para aumentar suas ambições climáticas e lançar pacotes de estímulo ao sustentável com foco em energia renovável.

Com custos muito abaixo daqueles de usinas de energia tradicionais, muitas tecnologias renováveis podem ser aprimoradas relativamente rápido, ajudando a reviver indústrias e a criar até 3,2 milhões de empregos na região, compensando – ainda que parcialmente – os impactos econômicos e sociais do surto do coronavírus.

Enquanto o petróleo despenca, renováveis são fontes seguras para investimentos em energia

O Covid-19 não é o único choque interferindo nas economias latino-americanas. O atual colapso nos preços do petróleo para muito abaixo do custo marginal de extração na maior parte da região colocou em pausa projetos de desenvolvimento e exploração do recurso. Muita oferta e decrescimento da demanda forçou investidores avessos à riscos deixarem o petróleo aos montes, com ações e títulos de produtores como Ecopetrol, Petrobrás e Pemex caindo significativamente.

O aumento da imprevisibilidade dos retornos em investimentos em hidrocarboneto aumentou os benefícios das energias renováveis, que vêm se fortalecendo com o passar dos anos. Até muito recentemente, combustíveis fósseis mantinham uma vantagem competitiva com a energia renovável. Este não é mais o caso. Na América Latina, energia renovável sem subsídio é frequentemente a fonte de energia mais acessível para inúmeros locais e mercados. Esperamos ver grandes números de investidores procurando por energia eólica e solar como alternativas confiáveis, acessíveis e de escala, investindo capital em novos projetos que incentivarão a transição para energias limpas na região.

Uma visão do futuro

A possibilidade das energias renováveis sustentarem a recuperação pós-Covid não é apenas em relação à economia. Trata-se de melhorar as condições de saúde e vida nas cidades latino-americanas.

Nos últimos meses, vimos o que é possível com um sistema de energias limpas. Pesquisas realizadas pela Carbon Brief mostram que a crise do coronavírus pode resultar na maior queda anual nas emissões de CO2 até hoje. Como a região mais urbanizada do mundo, com 80% de suas populações vivendo em cidades, a América Latina já é testemunha disso. A cidade de Santiago, no Chile, uma das metrópoles mais poluídas da região, já viu queda de 30% na poluição visível, enquanto cidadãos de Bogotá e Belo Horizonte tomaram as redes sociais com fotos de céus limpos.

Acreditamos que esta nova consciência sobre o que o futuro guarda para nós caso façamos as escolhas energéticas corretas leve a um aumento na pressão aos governos e corporações da região, recuperando as piores situações de poluição do ar urbano.

A pandemia irá resultar em mudanças duradouras, e companhias, governos e investidores têm uma oportunidade única de definir a realidade no mundo pós-coronavírus. Aqueles que conseguirem incluir a produção, consumo e progresso sustentável em relação às metas de carbono nos seus negócios estarão na crista da onda e, em nossa opinião, a economia de custos, benefícios ambientais e oportunidades de emprego das energias renováveis serão a sustentação do crescimento no caminho da recuperação da região.

Compilação de Fontes

https://www.irena.org/publications/2020/Apr/Global-Renewables-Outlook-2020

https://www.latinamericahydrocongress.com/en/news-en/latin-america-sets-a-collective-renewable-target-of-70-by-2030-more-than-double-the-eu

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Assim como a tecnologia, fontes de energia renováveis também se beneficiam de avanços sistémicos. Mesmo assim, nem todas as inovações vêm na forma de painéis solares mais eficientes. Algumas são introduzidas por inovações financeiras.

O financiamento de projetos no setor das fontes de energia renováveis desempenha o papel essencial de permitir que a indústria continue progredindo. Em outras palavras, sem financiamento viável para custear projetos, o setor fica estagnado. Métodos melhores e inovadores de financiamento criam oportunidades únicas para investidores e, com uma melhor estrutura financeira, os preços da energia para os consumidores se tornam mais acessíveis. Além disso, o apoio a projetos de energias renováveis em larga escala, que reduzem os preços da energia, permite uma melhor implementação de energia limpa e crescimento econômico na região.

Atlas Renewable Energy Abre Novos Caminhos

A expansão da Atlas Renewable Energy está focada nas economias emergentes da América Latina. Com as atuais inovações tecnológicas e financeiras, temos conseguido oferecer energia limpa na região, acumulando um histórico de desenvolvimento, financiamento e execução de projetos relacionados. Acreditamos que uma estruturação financeira personalizada permite alocações de risco mais precisas, resultando em preços mais baixos para os consumidores finais. Isto pode significar um avanço tão importante quanto os desenvolvimentos em tecnologia de energia solar.

Em toda a região, desenvolvemos várias instalações de painéis solares com diferentes estruturas de financiamento. Um desses projetos está localizado no Uruguai, onde nosso cliente para a energia produzida é uma empresa estatal, a UTE, que exigiu um acordo de compra de energia (PPA) de mais de 25 anos. Isto representou um desafio e uma oportunidade interessante, porque a maioria dos bancos que financiam esse tipo de projeto oferece períodos máximos de financiamento de 10 a 15 anos, com alguns poucos oferecendo até 18 anos. Nós resolvemos este problema criando uma nova estrutura de financiamento onde duas oportunidades privadas de longo prazo (ou seja, títulos) foram emitidas nos Estados Unidos, permitindo que múltiplos investidores de todo o mundo participassem com diferentes alocações de risco. Esses investidores de títulos estão acostumados a retornos de longo prazo.

O negócio foi composto por um título de investimento sênior totalizando US$ 103 milhões, e um título de dívida subordinada totalizando US$ 11,5 milhões, dos quais o IDB-Invest financiou uma parcela proporcional. (DNB Markets Inc. atuou como co-arranjador e agente das parcelas sênior e sub B.)

Os títulos sênior e subordinados têm duração de 24 anos e 15 anos, respetivamente, e depois os investidores saem dos seus investimentos e a Atlas Renewable Energy continua a operar e fornecer os requisitos de energia para o restante do acordo de compra de energia. O acordo foi apoiado pelo IDB-Invest como credor de registro (do Grupo do Banco Interamericano de Desenvolvimento – IDB, um afiliado do Banco Mundial) e organizado em uma estrutura de obrigações A/B que inclui tanto as parcelas de notas sênior e subordinadas. Essa colaboração foi um acordo completamente novo no contexto de projetos de Renovação na América Latina e permitiu que a Atlas Renewable Energy fosse premiada com o Acordo de Obrigações Estruturadas do Ano pela Bonds & Loans Latin America.

Cerimônia de Premiação em Bogotá, Carlos Barrera – CEO da Atlas Renewable Energy e Michael Shea – Chefe de Estruturação Financeira recebem o prémio.

O que foi particularmente interessante sobre o acordo é que demonstra que os investidores internacionais podem e querem participar no desenvolvimento energético da região, que prazos longos a taxas ótimas podem ser alcançados e que essa nova estrutura de financiamento pode servir de novo modelo para ajudar a resolver as necessidades de capital a longo prazo da região. Isto também comprova a estabilidade e eficiência das tecnologias de fontes renováveis; que investidores vêm reconhecendo como negócios de baixo risco a longo prazo.

Benefícios da B-Bond

O financiamento com a estrutura de títulos B permite a expansão de fontes de financiamento substituto através do mercado de capitais para investidores privados sob um guarda-chuva multilateral, fornecendo uma alternativa forte e adequada ao financiamento bancário ou financiamento tradicional dos mercados de capitais. Esse tipo de financiamento ajuda a trazer liquidez adicional e valor potencial a uma determinada transação, sob a estrutura implícita de seguro de risco político do IDB por meio da sua função de “credor de registro”.

Inovação no Mercado de Capitais para Energia Solar Fotovoltaica

Os parâmetros necessários para obter uma classificação de grau de investimento para um título de energia solar/verde permanecem bastante onerosos e são conservadores por natureza. Do ponto de vista de fluxos de caixa, um título com avaliação de grau de investimento vai exigir uma percentagem relativamente baixa das receitas da instalação para pagar a dívida associada (em comparação com empréstimos bancários de longo prazo, por exemplo). Dado o histórico da tecnologia fotovoltaica como uma classe de ativos, existe amplo apetite de investidor pela exposição ao risco de fluxos de caixa adicionais a uma taxa de retorno competitiva (até 80% no caso de empréstimos bancários de longo prazo); especialmente quando há um componente comercial limitado. Por essa razão, a incorporação de uma parcela subordinada ou “intermediária” oferece uma solução interessante para alcançar índices de alavancagem mais robustos, resultando em preços de energia mais baixos para os consumidores finais. A inovação financeira pode desempenhar um papel fundamental no crescimento de energias renováveis na América Latina. Quando bem feita, pode oferecer novas possibilidades para os investidores, taxas atrativas de retorno e poupança de energia para os consumidores. Essas grandes vitórias para todas as partes envolvidas enaltecem o potencial e o brilhante futuro que as fontes de energia renováveis têm na América Latina e é uma das razões para o otimismo nessa indústria.


A utilização de energia solar na América Latina permite que mineradoras obtenham energia a preços mais competitivos.

Mineração Com Grande Uso de Energia na América Latina

Segundo estimativas, indústria global de mineração consome 400 terawatts/hora de energia anualmente, o equivalente à demanda energética de toda a França. Uma grande parcela desse consumo acontece na América Latina, que é rica em minérios. Lar dos maiores depósitos de cobre, prata, lítio e ouro, o setor de mineração no continente é uma indústria de bilhões de dólares, que está cada vez mais em busca de fontes renováveis de energia para suprir sua demanda.

Para obter o produto final da mineração e atender à crescente demanda mundial por esses elementos, o minério passa por diversos processos com alta utilização de energia. O custo financeiro da energia utilizada no setor corresponde a 1/3 do custo total de operação, com tendência de crescimento conforme os depósitos de minério mais acessíveis se extinguem, tornando necessária a utilização de processos mais complexos e com maior custo energético.

Incorporando Energia Renovável no Processo de Mineração

Para lidar com esses novos desafios, companhias de mineração estão cada vez mais utilizando fontes de energia solar e eólica para atender sua demanda por energia, reduzir a emissão de gás do efeito estufa e diminuir os custos de operação no setor.

Energia renovável de fontes não-convencionais está sendo cada vez mais utilizada como uma solução viável para problemas de demanda energética na América Latina. Por exemplo, nos últimos cinco anos a utilização de energia renovável no Chile foi de 5% do total para 18%. A energia gerada por painéis solares se torna cada vez mais competitiva quando comparada às fontes convencionais – especialmente na América Latina, uma região que se beneficia de altos níveis de irradiação solar – grande parte ainda não utilizada. A tecnologia de painéis fotovoltaicos também sofreu enorme redução de custos na última década, fator que, aliado ao aumento de eficiência, diminuiu o preço dessa fonte de energia para menos de 50% do custo de fontes convencionais (como carvão e gás natural). Além disso, painéis solares e, em alguns lugares, energia eólica, estão atingindo um custo de 50% do custo de energia hidrelétrica convencional em algumas localidades. Essas mudanças estão trazendo maiores investimentos em energia solar para substituir fontes convencionais.

A usina de energia solar ‘Javiera’ da Atlas Renewable Energy, localizada em Antofagasta, no norte do Chile, é um grande exemplo da nova tendência de investimento em energia solar por mineradoras. A usina de 69 MegaWatts de potência fornece energia solar para a mina de cobre Minera Los Pelambres, propriedade da Antofagasta Minerals, a maior companhia privada de mineração no Chile, e atende à 15% da demanda por energia da companhia.

A indústria de mineração no Brasil, Colômbia, México e Peru também podem adotar estratégias de incorporação de fontes não-convencionais de energia renovável na sua operação. Dessa maneira, além de cortar o custo da energia quase pela metade, também poderão contribuir com a construção da imagem de empresas verdes, podendo operar com parceiros que têm maiores exigências ambientais. Empresas de tecnologia, que dependem da mineração na América Latina para confeccionar seus produtos, estão ansiosas para diminuir a emissão de carbono na sua cadeia produtiva, demandando o mesmo de seus fornecedores.

Perspectiva Para O Futuro

Previsões do mercado indicam que fontes renováveis serão responsáveis por suprir 5-8% da demanda energética de mineradoras até 2022, com metas mais ambiciosas buscando atingir até 15% nesse mesmo período. Essa nova tendência resultará na triplicação da capacidade global do mercado até 2027. A incorporação de energia solar dá às mineradoras da América Latina uma oportunidade única de suprir sua demanda energética de maneira sustentável, confiável e com baixos custos. Energia solar não é apenas uma alternativa sustentável, mas também uma maneira de reduzir custos e continuar competitivo em uma indústria onde a redução de custos é essencial.


Sources

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  12. Funicello-Paul, Lindsay. “Press Release | Renewable Energy in the Mining Industry.” Press Release | Renewable Energy in the Mining Industry, 27 Feb. 2019, www.navigantresearch.com/news-and-views/annual-revenue-for-renewables-and-energy-storage-in-the-mining-sector-is-expected-to-generate-roughl.